Precisamos estar sempre vigilantes, fortes e em movimento

O ano de 2023 é objeto de interpretações diversas quando se fala da realidade política. Há, por um lado, a leitura de que se trata de uma retomada da trilha democrática pela qual o Brasil voltou a seguir a partir das bases fundamentais da Constituição Federal de 1988.

Por outro lado, com base em premissas igualmente plausíveis e pertinentes, a perspectiva segundo a qual o país escapou por pouco de uma – agora sabidamente arquitetada – malsucedida tentativa de ruptura institucional reforça o alerta para defendermos contínua e ininterruptamente as instituições democráticas.

A reconstrução do tecido democrático passa pelo enfrentamento das múltiplas dimensões das desigualdades, especialmente nos âmbitos racial, territorial e de gênero. Essa premissa fundamenta a sua missão, que consiste em fomentar iniciativas para promover justiça social e o desenvolvimento sustentável das periferias urbanas, em articulação com diversos agentes da sociedade civil, de instituições de pesquisa, do Estado e do mercado para que seja possível alcançar esse objetivo. Essa atuação está intrinsecamente ligada aos valores que norteiam o trabalho da Fundação Tide Setubal – no caso, democracia, diversidade, equidade e colaboração.

Ao considerarmos o contexto do novo momento do país, buscamos nos posicionar como organização da sociedade civil atuante e produtora de metodologias e experiências de enfrentamento das desigualdades.

Logo, as ações desenvolvidas pela Fundação Tide Setubal em 2023 tiveram também como objetivo reforçar o investimento em ações focadas na promoção de oportunidades de futuro para crianças e jovens das periferias, ao intensificar a aproximação com esse público e sensibilizá-lo por meio de reflexões e formação de pontos de vista sobre a política na contramão do conservadorismo.

Ainda nessa seara, os programas e projetos tiveram como foco contribuir para o fortalecimento de pautas progressistas por meio da construção de pontes com segmentos políticos antagônicos, para fomentar um caminho com novas opções eleitorais para os próximos pleitos.

Tais ações de apoio e metodologias de enfrentamento das desigualdades nos motivaram, enfim, a influenciar e sensibilizar o campo do investimento social privado para priorizar projetos voltados ao desenvolvimento das periferias.

Esse plano de ação foi fundamental para intensificar a participação política dos grupos minorizados nos âmbitos social, territorial e econômico. Aqui é importante fazer a seguinte observação: o desenvolvimento econômico tem, inegavelmente, papel central no enfrentamento das desigualdades – a começar pelo fomento a perspectivas e projetos em âmbito sustentável. No entanto, será necessário um esforço de todos os setores para implementar projetos voltados à garantia e promoção de direitos previstos na CF88.

Ao mesmo tempo, é fundamental ter sempre em mente que as demandas territoriais importam quando se fala em garantir condições dignas de vida, seja por meio da atuação comunitária ou do incentivo para que as pessoas possam ascender a espaços de poder e decisão – dentro da lógica do “fazer com”, enfim. Essa mesma leitura é relevante também quando se fala em fomentar a atividade econômica e pressionar o poder público a destinar mais recursos para esses mesmos espaços.

Tais eixos estão umbilicalmente conectados com a percepção de que o Estado tem como obrigação atuar, de fato, em favor da promoção do bem-estar social e do cuidado com as vidas de todas as pessoas, independentemente de quaisquer particularidades ou clivagens que criem vieses antagônicos ao bem comum.

A pluralidade de olhares e perspectivas estratégicas nos mostra o caminho para podermos construir as bases para uma sociedade de fato alicerçada na tolerância e nos ideais humanitários. Como bem disse Ailton Krenak, em Ideias para Adiar o Fim do Mundo, “definitivamente não somos iguais, e é maravilhoso saber que cada um de nós que está aqui é diferente do outro, como constelações”. Ou seja,

Maria Alice Setubal, Presidente do Conselho
Maria Alice Setubal
Presidente do Conselho

O fato de podermos compartilhar esse espaço, de estarmos juntos viajando não significa que somos iguais; significa exatamente que somos capazes de atrair uns aos outros pelas nossas diferenças, que deveriam guiar o nosso roteiro de vida.

Por fim, precisamos reforçar a lógica segundo a qual uma sociedade mais justa e menos desigual é uma sociedade melhor para todas e todos vivermos. E, é claro, um mundo com mais potencial de desenvolvimento, menos violência e mais humanidade.

Boa leitura,
Maria Alice Setubal