Nova Economia e Desenvolvimento Territorial

O paradigma de atuação do Programa Nova Economia e Desenvolvimento Territorial passou, em 2023, por reformulações para contemplar a formação de sujeitos – e, desse modo, considerar que o letramento racial e político são fundamentais.

Ao lado desse tema, o Programa Nova Economia e Desenvolvimento Territorial considerou como valor fundamental o fato de que as ações para geração de renda devem ser desenvolvidas com objetivos que devem ir além da resolução de emergências financeiras e contemplou, entre suas ações, proposta de reorganização produtiva local por meio da segurança alimentar.

Como consequência, tais atividades devem garantir a permanência e a sustentabilidade da atividade econômica, ao fundamentá-las na formação de sujeitos, na reorganização produtiva territorial e, finalmente, em políticas públicas de proteção social.

Confira mais detalhes nos textos a seguir.

1.

Mais do que preparar profissionais, formar sujeitos

Curso de programação para jovens da {Parças} Developers School no Galpão ZL focou na preparação de estudantes para enfrentar os desafios do mercado tecnológico

Um dos objetivos estratégicos do Programa Nova Economia e Desenvolvimento Territorial passa por promover a inclusão e a reorganização produtiva para, enfim, fomentar a circulação de renda nos territórios periféricos. Ao lado da lógica da formação profissional e de sujeitos, essa premissa tem papel central para o trabalho desenvolvido no Jardim Lapena, bairro da zona leste de São Paulo.

Nesse sentido, um dos projetos implementados em 2023 consistiu no curso de programação para jovens realizado pela {Parças} Developers School. A atividade, que aconteceu no Galpão ZL, núcleo de Prática de Desenvolvimento Local da Fundação Tide Setubal situado no Jardim Lapena, consistiu em preparar estudantes para enfrentar os desafios do mercado tecnológico.

Realizado de julho até o fim do ano, o curso contou com a participação de 20 estudantes. As alunas e alunos tiveram contato com aspectos elementares sobre computação e programação durante as primeiras aulas. Posteriormente, os encontros contemplaram conceitos mais densos. Vale destacar que os conteúdos transmitidos dialogavam com o cotidiano e os referenciais das pessoas participantes.

Kenia Cardoso, coordenadora do Programa Nova Economia e Desenvolvimento Territorial, destacou o papel da tecnologia para a formação profissional – mas, é claro, com viés humanizado.

“Promover papel ativo dos territórios periféricos não apenas da formulação ativa de novas tecnologias, mas sobretudo instrumentalizá-las em benefício coletivo, é uma forma de gerar empregos nas comunidades e fora delas.”

Para além de códigos e dados

Ao mesmo tempo que os conteúdos transmitidos durante as aulas eram a razão de ser do curso de programação para jovens do Jardim Lapena, no que diz respeito a temas que passavam por noções básicas sobre computação até, gradativamente, chegar a tópicos sobre codificação e desenvolvimento de sites, outro ponto crucial para a formação foram as mentorias com estudantes participantes.

Em linhas gerais, cada sessão de mentoria relativa ao curso da {Parças} Developers School no Galpão ZL foi composta de conversas individuais com pessoas voluntárias, acontecendo a cada 15 dias em média.

Se orientações tinham papel importante durante esse processo, também foi fundamental, para que as sessões de mentoria pudessem ser bem-sucedidas, que alunas e alunos sentissem que suas vozes estavam sendo ouvidas de modo ativo e genuíno.

Assim sendo, de acordo com Carla Cristina, cofundadora e head de operações e back office da {Parças} Developers School, a intenção com as mentorias foi: “além de conhecer mais o jovem e apoiá-lo na formação, estimulá-lo a entender e expor o ponto de vista de forma respeitosa”.

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2.

Sobre alimentar a atividade econômica e o desenvolvimento solidário

Projeto do Programa Nova Economia e Desenvolvimento Territorial coloca promoção da qualidade de vida e desenvolvimento econômico como aspectos centrais

Criar soluções que contribuam para a qualidade de vida da população e fomentem a atividade econômica do Jardim Lapena para garantir a permanência de recursos no território. Esse foi o ponto estratégico para o Programa Nova Economia e Desenvolvimento Territorial no desenvolvimento de ações em 2023.

Uma iniciativa implementada foi o projeto +Lapena Renda Alimentar, que tinha a meta de colocar a segurança alimentar, por meio de soluções que viessem a contribuir para o acesso à alimentação adequada e sustentável nas comunidades locais, no centro do debate econômico.

A ação pretendeu fortalecer iniciativas agroecológicas já existentes na região – o que aconteceu por meio de mapeamento, mobilização e articulação no território. A partir dessa etapa, parcerias foram fechadas com produtores e pequenos agricultores locais, por meio de compra e consumo de alimentos provenientes de fontes sustentáveis, para tornar mais robusta a economia local e reduzir a dependência de grandes cadeias de distribuição.

O projeto contou, em 2023, com parcerias das organizações A Cidade Precisa de Você e Pé de Feijão. Além disso, o +Lapena Renda Alimentar contou com contribuições dos grupos Mulheres do Gau; Ciclolog Leste, na área logística; Instituto Kairós; e Sampa +Rural.

Economia e bem-estar territorial e social

Para além do apoio às organizações produtoras e envolvidas no processo de organização dos alimentos, doações e a organização da parte logística foram acionadas para garantir a segurança alimentar de dez famílias do Baixo Lapena – selecionadas no projeto-piloto para receber cestas de produtos frescos, como frutas, legumes e verduras.

As dez famílias mencionadas receberam tais cestas com quantidade variável, de acordo com o número de membros que as compunham, para assegurar que todas as pessoas pudessem ter acesso aos alimentos. Desse modo, a composição seguia a recomendação de consumo diário de 200 a 400 gramas por indivíduo.

Estima-se que tenham sido distribuídas 175 cestas básicas com cerca de 50 variedades de itens plantados no território – o total de alimentos doados ultrapassou 1,6 tonelada. Ainda, o processo contou também com quatro composteiras implantadas no território, permitindo a produção de 40 litros de adubo líquido.

Além disso, ao considerar-se a perspectiva de formação de sujeitos, as famílias recebiam também dicas sobre técnica para conservação das folhas, para maximizar o aproveitamento dos alimentos. Essa mesma lógica abrange também a organização de oficinas e palestras sobre temas como valorização dos alimentos locais e sazonais, redução do desperdício alimentar e importância da dieta equilibrada.

“A relação das famílias com a comida tem função social do indivíduo com o alimentar. Ao ser trabalhada, ela muda a cultura de um bairro e lida na prática com a questão da segurança alimentar.”

Kenia Cardoso, coordenadora do Programa Nova Economia e Desenvolvimento Territorial

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3.

Cidadania e desenvolvimento solidários

Ciclo formativo sobre desenvolvimento solidário, realizado por meio de parceria com o Instituto Paul Singer, coloca a formação de sujeitos no centro do debate sobre inclusão produtiva

Outra atividade colocada em prática, para permitir reflexões e desenvolvimento de ações voltadas a novos modelos produtivos sem reprodução de desigualdades, consistiu no curso Introdução ao Desenvolvimento Solidário: economia, política, educação e alimentação para territórios solidários.

Coordenado pelo Instituto Paul Singer e com apoio da Fundação Tide Setubal, em parceria com o Instituto Nova União da Arte (NUA), o projeto estimulou diálogos conduzidos a partir do tripé composto pelos seguintes conceitos: economia solidária, agricultura agroecológica e educação transformadora. As aulas contaram com participações de lideranças comunitárias do Jardim Lapena e da União de Vila Nova.

Com 11 encontros, que continuaram a acontecer em 2024, o curso abordou temas que lidavam com novas possibilidades e perspectivas para o desenvolvimento econômico solidário no território. Os tópicos foram:

  • A relação entre sociedade civil e Estado, sobre as lutas por direitos nas periferias nas últimas décadas, formas de organização e de lutas sociais (dois encontros);
  • Desenvolvimento territorial: o que é, experiências locais e conceitos de território e redes;
  • O mundo do trabalho e o mercado de trabalho: com o que as pessoas do território trabalham e os diferentes modos de produção;
  • Modo de produção capitalista e o território: o que é e como funciona o capitalismo e quais são seus impactos locais;
  • O que é o Estado: para que serve e como funciona a política institucional;
  • Desenvolvimento e economia solidários: empreendimentos econômicos solidários em oposição ao modo de produção capitalista;
  • Desenvolvimento Solidário e a agricultura urbana agroecológica: experiência local do grupo de mulheres da agroecologia e de como se relaciona com o desenvolvimento local;
  • Desenvolvimento solidário e educação transformadora: como práticas escolares podem se conectar com a transformação de território;
  • Como o território se articula em redes;
    Avaliação coletiva do curso.
“Os diálogos partem sempre de experiências concretas desenvolvidas no território para ser possível pensar o mundo em conjunto. Os encontros buscam estimular a perspectiva de que experiências vividas em âmbito micro são consequência de cenário político, econômico e social maior, além de organizá-las para o movimento ganhar tração e reconhecimento que merece.”

Kenia Cardoso, coordenadora do Programa Nova Economia e Desenvolvimento Territorial

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4.

Apoio a novos arranjos econômicos e à inclusão produtiva

Articulação com Fundo Aipê coloca o apoio à atividade empreendedora como um eixo estratégico do Programa Nova Economia e Desenvolvimento Territorial

A geração de renda voltada à garantia da permanência e da sustentabilidade da atividade econômica foi um dos valores norteadores para as ações em rede das quais o Programa Nova Economia e Desenvolvimento Territorial fez parte em 2023.

Uma das iniciativas dentro desse contexto foi a Aliança pela Inclusão Produtiva (Aipê). O projeto consistiu em chamada pública para o apoio a projetos que promovessem o empreendedorismo desenvolvido nas periferias das capitais brasileiras e regiões metropolitanas, com o potencial de gerar postos de trabalho e renda.

Com participações de Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Instituto Votorantim, Fundação Arymax, Fundação Tide Setubal, Instituto Heineken, Instituto humanize e Santander, assim como com patrocínios da Ambev e B3 Social, o Fundo Aipê disponibilizou R$ 4 milhões para apoiar dez organizações sem fins lucrativos atuantes no fortalecimento e na dinamização do empreendedorismo periférico.

Ainda, de acordo com o edital, as organizações ficaram responsáveis por direcionar a verba, de até R$ 400 mil para cada, ao apoio integrado a nano e microempreendedores individuais, com negócios formais ou informais geridos por moradores de periferias.

Os dez projetos selecionados por meio do Fundo Aipê eram atuantes em 12 unidades federativas do país e impactavam 1.047 empreendedores. A saber, as organizações escolhidas foram:

  • Asplande (RJ);
  • Associação Aventura de Construir (SP, MG, RS e BA);
    Associação Mulheres da Parada (RJ);
  • Cáritas Arquidiocesana de Teresina (PI);
  • Fundo Agbara (SP);
  • Instituto Luther King (SP e RJ);
  • Instituto Nova União da Arte (SP);
  • Instituto Padre Vilson Groh (SC);
  • Rede Brasil Afroempreendedor (AP, AL, PA, PE, MA e RJ);
  • Vale do Dendê (BA).

Desse modo, cada uma das organizações passou a ter de 12 a 24 meses para executar aportes aos nano e microempreendedores apoiados por elas. Além disso, devem acompanhá-los por mais um ano para verificar o resultado das ações, que contemplam métricas como número de negócios formalizados, faturamento dos negócios e aprendizagem, desenvolvimento e investimento dos empreendedores, geração de renda e postos de trabalho.

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